quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Eu vou mudar tudo que não me convém.

"Isso era a paixão: criar a imagem de alguém, e não avisar.
Um dia, porém, quando a convivência revelasse a verdadeira identidade de ambos, descobririam que atrás do Mago e da Valkíria viviam um homem e uma mulher. Com poderes, talvez, com alguns conhecimentos preciosos, mas - não podiam fugir desta realidade - um homem e uma mulher. Com a agonia, o êxtase, a força e a franqueza de todos os outros seres humanos.
E quando um deles se mostrasse como realmente é, o outro iria afastar-se - porque isto significava destruir o mundo que havia criado.
Descobrira o amor na beira de um despenhadeiro, com duas mulheres se entreolhando e a imensa lua brilhando atrás. O amor era - dividir o mundo com o outro. Ele conhecia bem uma daquelas mulheres, com ela dividia seu Universo. Viam as mesmas montanhas, as mesmas árvores, embora cada qual as olhasse de maneira diferente. Ela conhecia suas fraquezas, seus momentos de ódio, de desespero, e mesmo assim estava ao seu lado.
Dividiam o mesmo Universo. Embora, muitas vezes, tivesse a sensação de que tal universo já não tinha mais segredos, ele descobrira - aquela noite no Vale da Morte - que tal sensação era uma mentira.
(...)
'Acho que me apaixonei muitas outras vezes', falou consigo mesmo. Não se sentia culpado por isso. A paixão era algo bom, divertido, e que podia enriquecer muito a vida.
Mas era diferente do amor. E o amor vale qualquer preço, nao merecia ser trocado por nada."
Paulo Coelho em As Valkírias